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Foto: Casa e Jardim
O RESSURRECTO
Poema de Antonio Miranda
Desenterrado vivo depois de anos de escuridão
intacto sob uma cobertura de pó
em camadas de fina tessitura.
A palidez ebúrnea, vinda das paragens
desconhecidas da morte, cheiro súbito
de coisa parada no tempo, sambaqui enterrado.
Inscrições rupestres na Serra da Capivara.
No Piauí vagam animais da mais remota
antiguidade. Vestígios por toda parte.
Do chão arcaico emanam forças
capazes de ressurreição das espécies.
Havia relatos de outros casos sem Oeiras e em Picos.
Havia pássaros descomunais com bicos
de carcará e alas de morcegos vindos
das cavernas, e peixes alados migrando
do delta do Parnaíba na direção das águas
enterradas da Gurgéia, para a derradeira morte.
Pedaço do fim do mundo antediluviano.
Terras profanadas pelos colonizadores.
Os peixes impedidos de subir nas águas
do rio com a construção de uma represa;
as águas cada vez mais poucas e barrentas
impedem a navegação dos últimos vapores.
Parnaíba, PI, 1966
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